Embora tenham surgido na década de 1920, na França, os cineclubes ainda contam com membros fiéis em Sorocaba (SP). Espaços alternativos exibem títulos que os idealizadores gostariam que mais pessoas conhecessem. Cinéfilo ou não, todo mundo conhece essa cena: um seleto grupo de pessoas com gostos em comum se reúne toda semana, em uma sala de cinema improvisada, para assistir a filmes “diferentões” e, em seguida, discutir sobre eles de forma democrática.
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Embora tenham surgido na década de 1920, na França, os cineclubes ainda são populares entre os amantes da sétima arte hoje em dia e contam com membros fiéis em Sorocaba (SP).
📽️ Um projetor e uma tela de cinema
Cine Culto promove exibições de filmes toda quarta-feira, às 20h, em Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Foi justamente essa paixão pelo cinema – sobretudo pelos filmes diferentes, esquisitos, trashes e bizarros – que motivou os três amigos Vania Silveira, Cristiane Justino e Victor Costa a criarem o Cine Culto, um cineclube que promove exibições de filmes toda quarta-feira, pontualmente às 20h.
Antes de dar início ao projeto, o trio participava de shows e exposições itinerantes em espaços públicos por meio do Coletivo Extensão. “Paralelamente a isso, costumávamos nos reunir em nossas casas para ver filmes e bater papo a respeito. Então, a nossa ideia era fazer algo semelhante a uma sessão na casa de amigos”, relata a assistente administrativa Vania, de 35 anos.
“Em 2019, nos juntamos com o Coletivo Supernova para fazer sessões em comemoração ao Halloween, nas quais exibimos somente filmes de terror dirigidos por mulheres. Ali nasceu a vontade de expandir essa ideia, mas veio a pandemia e isso acabou atrasando nossos planos.”
Uma vez que a Covid-19 foi controlada, em 2022, os amigos decidiram comprar um projetor e uma tela de cinema. As primeiras sessões do Cine Culto eram realizadas no PUPA Eventos Criativos, que cedia o espaço para o grupo. Posteriormente, Chris e Victor inauguraram a Casa Ruída, um espaço cultural independente, que passou a ser a sede do cineclube.
Os amigos Vania Silveira, Cristiane Justino e Victor Costa criaram o cineclube em Sorocaba (SP)
Arquivo pessoal
Hoje, a média de público das sessões é de 10 a 20 pessoas, e a entrada é colaborativa, ou seja, os participantes “pagam o quanto quiserem, apenas se quiserem e, principalmente, se puderem”, como explicam os idealizadores do projeto. O valor arrecadado é utilizado para cobrir os gastos do espaço, como energia, água e etc.
Entre as produções já exibidas no cineclube estão algumas de terror, como “Hereditário”, “O Exorcista” e “O Massacre da Serra Elétrica”, os nacionais “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”, “Estômago” e “Sinfonia da Necrópole”, e alguns animes, como “Ghost in The Shell” e “Akira”.
“Também fizemos algumas sessões temáticas. No Natal, por exemplo, exibimos clássicos dos anos 80, como ‘Gremlins’ e ‘Duro de Matar’, que casavam com a época festiva. Já em outubro, no Halloween, fizemos algumas sessões no estilo corujão, que começavam à meia-noite”, conta Vania.
Na hora de escolher os filmes, o trio prioriza títulos que gostaria que mais pessoas conhecessem. “Seja por seu viés social, que nos traga uma reflexão ou, simplesmente, pela diversão. Também gostamos de exibir filmes queridos, que sabemos que as pessoas vão curtir rever na tela grande. Varia muito do nosso humor no momento… Mas também aceitamos sugestões do público, claro.”
Média de público das sessões é de 10 a 20 pessoas, e a entrada é colaborativa
Arquivo pessoal
Após as sessões, os presentes aproveitam para discutir sobre os longas. “Gostamos de conversar sobre o filme, trocar ideias e pontos de vista, mas tudo de uma maneira divertida e informal, como aconteceria entre amigos mesmo”, continua Vania.
Agora em março, serão exibidos os filmes “Psicopata Americano”, “Cemitério Maldito”, “Pulp Fiction: Tempo de Violência” e “A História Sem Fim”. A Casa Ruída fica na Rua Pará, 123, na Vila Santa Terezinha.
☕ 14 anos de história (e estórias)
Cineclube Cine Café foi criado em abril de 2010 em Sorocaba (SP)
Divulgação
Um espaço sem viés comercial para ver e discutir o cinema, preferencialmente com a exibição de filmes que não estão disponíveis às pessoas com facilidade, e que possuam características autorais, alternativas, com temas relevantes e que contribuíram para a evolução da linguagem cinematográfica.
Esta é a proposta do Cine Café, um cineclube criado em abril de 2010 pelo então curador Marcelo Domingues. A princípio, o projeto era realizado na Oficina Cultural Grande Otelo, porém, com o tempo, acabou migrando para o Sesc Sorocaba.
Os primeiros dez filmes exibidos pelo cineclube foram “Leolo”, “A Vida dos Outros”, “Sábado”, “A Cor do Paraíso”, “Jogo de Cena”, “A Montanha Sagrada”, “Underground”, “Quase Dois Irmãos”, “Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera” e “Amém”. Mas, durante 14 anos de história, o cineclube já selecionou mais de 700 obras “de todas as épocas, regiões do planeta, gêneros e temáticas”, como reforça Marcelo.
“Nós buscamos fomentar a formação de um público com o olhar crítico para apreciar e entender o cinema de uma forma abrangente e tridimensional. Isso se dá através dos bate-papos, que propõem uma interação entre as diversas percepções do público, como também através da apresentação de conteúdos relacionados ao contexto dos filmes, as circunstâncias em que foram produzidos e as características e biografias de seus realizadores”, completa.
Durante 14 anos, o Cine Café já exibiu mais de 700 filmes em Sorocaba (SP)
Divulgação
As sessões são realizadas toda terça-feira, a partir das 19h, no teatro da unidade, com temáticas mensais e entrada gratuita. Durante os períodos de férias, o cineclube recebe uma média de 200 pessoas por exibição, mas, com o início das aulas, esse número fica entre 50 e 100 visitantes.
Assim que os filmes terminam, o público é convidado a participar de bate-papos com mediadores, que nem sempre são diretores ou pessoas ligadas ao cinema. No entanto, segundo o produtor cultural do Sesc Sorocaba, Gilcemar Borges, de 39 anos, atual responsável pelo projeto, poucas pessoas se mostram dispostas a conversar após as exibições.
“É essencial que haja a conversa. Garantimos que os filmes tragam questões polêmicas, sensíveis ou impactantes, que possam ser discutidas, permitindo que as mais diversas opiniões sejam apresentadas para que nossos entendimentos e impressões possam ser melhor trabalhados”, reforça.
A próxima sessão do Cine Café será na terça-feira (12), às 19h, quando será exibido o filme “Yaaba – O Amor Silencioso”. O Sesc Sorocaba fica na Rua Barão de Piratininga, 555, no Jardim Faculdade.
Sessões são realizadas toda terça-feira, a partir das 19h, no teatro do Sesc Sorocaba (SP)
Divulgação
🏆 Estatueta polêmica
Embora esteja curioso para ver quais serão os resultados que o longa “Pobres Criaturas” irá alcançar na cerimônia do Oscar, na noite deste domingo (10), por ser um trabalho “bastante ousado e, ao mesmo tempo, um pouco perturbador”, o produtor cultural reforça que considera a premiação hipervalorizada.
“Temos outros festivais gigantes também e que não têm o mesmo destaque de cobertura. Prefiro ter um olhar muito mais fragmentado e utilitário. Contudo, acho importantíssimo que haja festivais assim para haver não só a valorização, mas o destaque e o diálogo sobre profissionais que passam batidos em uma indústria gigante que é o cinema”, opina.
Por isso, quando são divulgadas as listas dos indicados aos prêmios, Gilcemar consulta os títulos que estão concorrendo nas categorias de melhor roteiro, roteiro adaptado e melhor filme internacional. “Só nessas categorias, já ganho ótimas dicas para colocar em minha listinha de filmes para assistir”, comenta.
Veja críticas de filmes indicados ao Oscar 2024
Assim como Gilcemar, os amigos Vania, Cristiane e Victor não têm o costume de acompanhar o Oscar, mas, neste ano, estão na torcida pelo conterrâneo Daniel Bruson, que concorre à estatueta na categoria de melhor curta-metragem de animação com o projeto “Ninety-Five Senses”. O morador de Sorocaba é diretor de animação, roteirista, animador, artista visual e integra a equipe de produção da obra.
“Acho que cinema é subjetividade e é difícil mensurar qual diretor é melhor que o outro, qual filme tem a melhor trilha sonora e etc. Entendo que a premiação é um símbolo de reconhecimento pela indústria do cinema, também entendo que, nos últimos anos, houve mudanças nas regras para a premiação, incluindo critérios de representatividade, mas ainda acho a academia bastante excludente e enrijecida”, analisa Vania.
À esquerda, o personagem principal do curta-metragem ‘Ninety-Five Senses’, Coy; à direita, o artista sorocabano Daniel Bruson
Camila Fontenele/Divulgação
🍿 Cinéfilos desde pequenos
Com pais fãs de filmes de terror, Vania foi apresentada a esse universo logo na infância e, de cara, se apaixonou pelo gênero. Gradualmente, no entanto, esse amor foi se expandindo para outros gêneros do cinema.
“Hoje gosto muito de diretores italianos, como Dario Argento, Lucio Fulci e Mario Bava, mas também sou fã de diretores conceituados, como Stanley Kubrick e Clint Eastwood. Dessa nova geração, ando curtindo muito o trabalho do Ari Aster e do Robert Eggers, dois diretores que estão atraindo novos olhares para o gênero”, conta.
Já a fotógrafa e videomaker Cristiane Justino, de 33 anos, sempre acompanhava os filmes, séries e animes que eram exibidos na televisão aberta nos anos 90. Na infância, essa paixão funcionava como entretenimento, porém, depois de adulta, o interesse pela arte fez com que ela quisesse entender como funcionavam as partes técnica e teórica das produções cinematográficas, levando-a a escolher as profissões que desempenha hoje.
“Sempre fui muito fã de filmes de horror e trago essa estética do terror e do obscuro para meus trabalhos de fotografia e audiovisual. Minhas referências mais fortes no cinema hoje em dia são os diretores John Carpenter, Gaspar Noé, Nicolas Refn e Jordan Peele. Todos têm o seu jeito único de fazer filme, desde roteiro a fotografia e trilha sonora”, comenta.
“Esses mesmos diretores criaram e criam coisas novas para o cinema que fogem do padrão hollywoodiano de estética e roteiro. Fora que seus filmes sempre carregam críticas sociais importantes, que precisam ser vistas e discutidas na sociedade.”
Na contramão das premiações, cineclubes exaltam filmes pouco conhecidos pelo grande público
Divulgação
No caso do programador Victor Costa, de 30 anos, a paixão pelo cinema vem da forma plural da arte como expressão artística, unindo diversos recursos visuais, auditivos e textuais. O sorocabano sempre foi fascinado por filmes de ficção científica, por como eram feitos os efeitos práticos e visuais e por como as coisas são por trás das câmeras.
“Diversos filmes me marcaram em diferentes fases da vida e tenho um apreço diferente por cada um, mas nem todos são obras-primas da sétima arte. Alguns dos mais marcantes para mim são ‘Jurassic Park’, de Steven Spielberg, ‘Alien, O Oitavo Passageiro’, de Ridley Scott, e “Uma Noite Alucinante 2″, de Sam Raimi”, elenca.
Dirigido pelo cineasta brasileiro Fernando Meirelles, o drama “O Jardineiro Fiel”, de 2005, foi um dos que mais marcaram Gilcemar no cinema, despertando nele a paixão pela sétima arte.
“Lembro que, quando assisti a esse filme, saí atônito do cinema. Tinha clareza de que havia sido tocado pela obra e abordagem. Ali consegui perceber a sutileza e aura de mistério que um bom roteiro e montagem podem criar. Fiquei boquiaberto com os enquadramentos da câmera e fotografias maravilhosas, de uma beleza natural e humana exuberante, e, ao mesmo, tenso e puto por imaginar que tais práticas abordadas naquele filme poderiam ocorrer de verdade”, lembra.
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