Roberto Zampieri foi morto a tiros, aos 57 anos, em 2023. A investigação da morte do advogado levou à descoberta de um suposto esquema de venda de sentenças e de um grupo de espionagem. Advogado é morto a tiros dentro de carro na frente de escritório em MT; vídeo
O advogado Roberto Zampieri foi morto a tiros, aos 57 anos, no dia cinco de dezembro de 2023, em frente ao próprio escritório, no Bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá. Desde então, o caso é investigado pela Polícia Civil e Federal. Nesta quarta-feira (28), policiais federais prenderam cinco suspeitos de atuar como mandantes e coautores.
Zampieri é considerado peça central no inquérito. Em seu celular, os investigadores encontraram registros de negociações envolvendo a venda de sentenças judiciais, com menções a juízes de diversos tribunais e até a gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O assassinato também levou à descoberta de uma organização criminosa envolvida com espionagem e assassinatos sob encomenda – e com a participação de militares ativos e da reserva.
Nesta reportagem, o g1 reuniu tudo sobre o que já se sabe e o que ainda falta esclarecer sobre a morte do advogado. Veja abaixo:
Como crime aconteceu?
Os suspeitos
A dinâmica do crime
A motivação
Venda de sentenças
Descoberta de grupo de espionagem
Desiste de indiciar empresária
O que falta esclarecer
Como crime aconteceu?
Roberto Zampieri, de 57 anos, foi assassinado no dia 5 de dezembro de 2023, em Cuiabá
Reprodução
Roberto Zampieri foi morto com 10 tiros dentro do próprio carro em frente ao escritório. Uma câmera de segurança registrou o momento do crime (veja acima). Nas imagens, é possível ver que ele foi surpreendido por um homem de boné, que disparou pelo vidro do passageiro, e fugiu em seguida.
As equipes de socorro médico foram até o local, mas a vítima não resistiu aos ferimentos. O suspeito chegou a ficar cerca de uma hora aguardando a vítima sair do local.
Os suspeitos
Da esquerda à direita: Aníbal Manoel Laurindo, Coronel Luiz Caçadini, Antônio Gomes da Silva e Hedilerson Barbosa
Reprodução
Confira abaixo os nomes dos envolvidos na morte do advogado, de acordo com a Polícia Civil:
Aníbal Manoel Laurindo (mandante);
Coronel Luiz Caçadini (financiador);
Antônio Gomes da Silva (atirador);
Hedilerson Barbosa (intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no assassinato);
Gilberto Louzada da Silva (ainda não se sabe a função dele no grupo)
Segundo a Polícia Civil, eles deverão responder por homicídio duplamente qualificado pela traição, por emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.
Ainda de acordo com a polícia, outro agravante do crime foi o fato de ter sido praticado mediante pagamento ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe.
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Descoberta de grupo de espionagem
De acordo com a Polícia Federal, os cinco faziam parte de um grupo criminoso que se autodenominava “Comando C4” – ou “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”.
O grupo estaria envolvido com esquemas de espionagem e assassinatos sob encomenda, com participações de militares ativos e da reserva.
Ainda de acordo com informações da PF obtidas pela GloboNews, o grupo mantinha tabelas impressas com o “preço” de cada assassinato, a depender da “função” de cada vítima.
De acordo com a apuração, o grupo mantinha uma tabela de preços de espionagem conforme o perfil do alvo:
Ministros do STF: R$ 250 mil;
Deputados: R$ 100 mil;
Senadores: R$ 150 mil.
A dinâmica do crime
O suposto executor (Antônio Gomes) foi contratado pelo valor de R$ 40 mil.
Já o intermediário (Hedilerson Barbosa), despachou uma pistola calibre 9 mm, registrada no próprio nome, para Cuiabá, no dia 5 de dezembro, mesma data do crime.
O encontro entre o intermediador e o executor para entrega da arma ocorreu em um hotel, onde os dois ficaram hospedados na capital mato-grossense.
Antônio Gomes teria ido até o escritório do advogado um dia antes de cometer o crime. Além disso, ele teria vigiado a vítima por 30 dias antes do assassinato.
Zampieri foi morto com cerca de 10 tiros, dentro do próprio carro, em frente ao escritório em que trabalhava.
O coronel do Exército Brasileiro Etevaldo Luiz Caçadini foi preso, em Belo Horizonte, Minas Gerais, suspeito de financiar a morte do advogado.
O suspeito de atirar contra o advogado foi preso no dia 20 de dezembro, no município de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o delegado, o homem confessou que atirou contra Roberto.
Já o suspeito de ser o intermediário foi preso dois dias depois, também em Belo Horizonte.
A motivação
Segundo o delegado responsável pela investigação, Nilson Farias, foi verificado que existe uma demanda de duas fazendas em Paranatinga, a 411 km de Cuiabá, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões, e que a perda dessas propriedades na Justiça teria levado Aníbal a mandar matar o advogado.
Além disso, o mandante desconfiava de uma suposta aproximação de Zampieri com o desembargador do caso. A investigação apontou ainda que Roberto Zampieri era apenas o advogado do fazendeiro que pediu a terra de volta.
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Venda de sentenças
Da esquerda à direita: os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, e o empresário Andreson Gonçalves
Reprodução
A investigação da morte de Zampieri levou à descoberta de um suposto esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) que, depois, levou à identificação de suspeitas também sobre o Superior Tribunal de Justiça (STJ), dando início a Operação Sisamnes, deflagrada pela Polícia Federal.
Em novembro de 2024, três servidores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) foram afastados por suspeita de participação no esquema.
Em agosto do mesmo ano, mensagens extraídas do celular de Zampieri resultaram também no afastamento dos desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho.
Andreson Gonçalves, além de lobista, é dono de diversas empresas espalhadas pelo país, incluindo uma de transporte em Mato Grosso. Conforme as investigações, ele é apontado como um dos intermediadores das vendas de sentenças.
Nesta quarta-feira (28), a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, quatro de monitoramento eletrônico e seis de busca e apreensão. Os alvos estão em Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. A identidade deles não foi divulgada.
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Desiste de indiciar empresária
O delegado Nilson Farias desistiu de indiciar a empresária Maria Angélica Caixeta Gontijo, que, segundo as investigações, era suspeita de ter ordenado o assassinato do advogado.
Segundo o delegado, não existem provas de que a empresária tenha encomendando o assassinato. Maria Angélica foi presa no dia 20 de dezembro, em Patos de Minas (MG), mas conseguiu liberdade após decisão da Justiça no dia 18 de janeiro.
O que falta esclarecer
A Polícia Federal ainda trabalha para identificar outros integrantes do grupo criminoso, além de outros possíveis envolvidos na morte do advogado.
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