25 de junho de 2025

Quem é Nagalli, fenômeno do rap que emplacou álbum na lista de estreias mais ouvidas do mundo

Produtor musical, beatmaker, multi-instrumentista e dono da própria gravadora aos 27 anos, ele começou tocando como DJ em troca de refeições e hoje vê seu álbum atingir o 8º lugar no ranking global de estreias do Spotify. Veja íntegra de entrevista com Nagalli, produtor musical com disco em ranking global
André Nagalli era apenas uma criança, em Piracicaba (SP), quando começou a tocar bateria. Ganhou um disco do Charlie Brown Jr., se interessou por rock, teve uma banda na adolescência, mas foi ao ganhar um programa de produção musical do pai que descobriu um talento.
No dia seguinte, já tinha composto 20 beats, as batidas que são a base para a criação de músicas de rap e trap. Não demorou e ele estava improvisando um estúdio em casa para produzir fenômenos do rap e trap nacional. Por suas mãos, passaram discos com bilhões de reproduções, como “Dos Prédios”, de Veigh, e a demotape “Inocente”, de Djonga.
Se no começo da carreira Nagalli tocava como DJ em um bar em troca de almoço e janta, hoje, aos 27 anos, está consolidado como produtor musical, beatmaker, multi-instrumentista e dono da própria gravadora.
E vem escalando nas paradas de música nacional e global com o lançamento de seu álbum de estreia, o “Magic Show”, que conta com participações de nomes como Veigh, L7NNON, Kayblack, MC Cabelinho, TZ da Coronel e Vulgo FK.
O disco alcançou a oitava posição no “Top Album Debut Global do Spotify”, que é o ranking mundial das melhores estreias de álbuns. No ranking “Top Albums Brasil”, chegou à quinta colocação. Em relação ao ranking de músicas, quatro delas figuraram no top 100 do ranking “Spotify Viral Brasil” nesta semana. Dessas, a “Confissões PT2” alcançou o segundo lugar.
Ao g1, ele contou como foi o começo, quando descobriu o talento, desafios enfrentados, como é seu processo de produção, como enxerga a cena atual e os próximos planos para a carreira. Confira a entrevista abaixo:
Nagalli é produtor musical, beatmaker e multi-instrumentista
Alisson Gabriel
g1: Como tudo começou e quando você descobriu seu talento para a música?
Nagalli: Meu pai é um um multi-instrumentista bem conhecido em Piracicaba, deu muita aula de música. Começou desde pequeno com o incentivo dele. Desde os 8 anos de idade ele me ensina música no geral, e meio que nasci dentro do estúdio, vendo ele tocar. […]
Teve uma vez que ele me levou pra casa de um amigo dele que tinha uma bateria. E aí ele falou: “André toca aí qualquer coisa”. Aí eu comecei a tocar naturalmente. Aí ele falou: “Então, a partir da semana que vem, você já vai começar a vir aqui toda semana”. Ele que acabou descobrindo essa minha vocação pra música.
Quando cheguei mais ou menos numa idade de 14 e 15 anos, eu comecei a tocar em bandinha, começar a tocar em barzinho, comecei a tocar em um concurso de bandas da cidade. Me juntei com um pessoal daí de Piracicaba. A gente fez uma banda e chamava Gears and Roses. Era um cover do Guns.
Acabou não dando muito certo. Mas, ao mesmo tempo, também fui apresentado durante esse período por um vizinho meu, e pelo meu pai também, que acabou deixando um disco do Charlie Brown Jr. comigo, o “MTV Acústico”.
Disco de estreia de Nagalli já ultrapassou 55 milhões de reproduções em plataformas
Reprodução
E um amigo meu que acabou indo morar nos Estados Unidos […], acabou fazendo basquete e se inteirou na cultura rap, hip hop. E voltou para cá falando: “Cara, tá acontecendo isso aqui lá. Dá uma olhada nisso aqui”. E acabei me apaixonando [pelo gênero].
Acabou a bandinha, meu pai chegou para mim e falou assim: “Óh, tô com esse programa aqui de produção. Sei que você tá querendo fazer, né?”. No primeiro colegial, eu falei: “Pai, quero ser produtor musical”. Aí ele me deu o programa, porque já trabalhava com música, ele já tinha um programa. No dia seguinte, eu já tinha feito uns 30, 20 beats […].
E aí me mudei pra São Paulo. Já tava com 18 anos. […] Eu acabei descobrindo um grupo que chamava Recayd Mob, que é um grupo que acabou sendo exponente do gênero [trap] no Brasil. O pessoal começou a me mandar umas músicas deles e os meninos. “A gente vai num show da Recayd aí em São Paulo, tem como ficar na sua casa?” Aí eles vieram ficar aqui.
Eu fazia beats, mas com música mesmo, e eu tocava como DJ em vários tipos de festa, em bar. Inclusive, tinha um bar que eu morava do lado do bar, que eu tocava lá para almoçar e jantar. Se eu tocasse, eles me davam almoço e janta.
Nagalli conta que chegou a trocar trabalho como DJ por refeição
Pessoal veio para cá e a gente foi no show. Aí quando a gente foi no show, a gente acabou conhecendo um dos integrantes. Um dos integrantes falou pra gente: “A gente nunca fez show lá no interior. Seria legal fazer um show no interior”. Aí, a gente fez o primeiro festival de trap que teve em Piracicaba, que foi o Yellow Mountain Fest, e a atração principal era o pessoal da Recayd Mob.
Um dos integrantes da Recayd acabou ficando em Piracicaba no dia seguinte, depois do show. E aí ele falou: “Queria gravar um uma música com uns beats de vocês”. E aí a gente deu uns beats para ele gravar e um dos beats que ele acabou gostando bastante era o meu. Era o Klyn, que era um dos fundadores ali da Recayd.
Uma semana depois, o Klyn falou para um amigo meu que era lá da Yellow: “Tô precisando de lugar para gravar em São Paulo. Conhece alguém?”. Meu amigo falou: “O Naga [apelido de Nagalli] mora em São Paulo. Fala com ele”. Foi realmente a partir daí que as coisas realmente começaram a mudar. Nesse dia, veio bastante gente do do rap nacional e do trap nacional gravar na minha casa.
Nagalli relembra improvisação de estúdio em casa para gravar com expoente do gênero
Eu falei que tinha todos os equipamentos, mas não tinha nenhum equipamento. Fui atrás de um monte de equipamento na hora. Porque eu sabia gravar, sabia fazer mais pela vivência que eu já tinha tido na minha infância, com meu pai, mas não tinha nada e acabei ligando para um monte de amigo. “Preciso de um microfone, preciso de placa, preciso de caixa de som”.
No dia seguinte, veio acho que todo mundo da Recayd na minha casa. A gente começou a gravar um dia, aí gostou, gravou outro dia, e gostou, gravou outro dia, gravou, gravou, gravou.
Até que foi escalonando o trabalho, começou a dar resultado, a qualidade começou a ser um pouco diferente da qualidade que já tinha na época, a estética também começou a ser boa. As coisas começaram a mudar a partir daí. E aí que o André Nagalli virou o Nagalli em si.
Disco de Nagalli chegou ao Top Album Debut Global do Spotify
Divulgação
Então, a gente pode falar que era o embrião da Supernova na sua casa, improvisada?
Com certeza. Nessa época, eu acho que o Veigh [parceiro de Nagalli na fundação da Supernova] devia ter uns 13 anos, 14 anos, mais ou menos. Foi, acho, não só o embrião do Supernova, mas ali, naquele momento, um embrião do trap nacional em si.
Foi o começo de um movimento que partiu dali. Se você for ver bem, todas as pessoas que estavam ali comigo acabaram gerando a Recayd que era o que a gente conhece hoje, que a gente veio a conhecer dois, três anos depois. Foi o primeiro hit a bater 100 milhões de visualizações.
Então, a gente acabou tendo essa essa vivência ali que foi basicamente o que ditou o rumo da música no cenário nacional demais a partir dali. Foi basicamente um embrião do gênero no Brasil se for ver bem.
‘Aquele momento foi um embrião do trap nacional’, diz Nagalli sobre início de carreira
E qual que é a história do apelido Mago dos Beats?
Tinha um artista americano [Gshytt] aqui no Brasil e um produtor que conhecia o meu trabalho e que recebeu ele […] E aí ele me ligou e falou assim: “Nagalli, eu to com um artista gringo aqui, eu queria muito saber se você pode gravar ele”. Eu falei: “Lógico que posso”.
E aí ele foi na minha casa, que é no mesmo lugar, um pouquinho depois, mas no mesmo período que o pessoal da Recayd ia […] A primeira música que a gente gravou, chamava “Favela Boy”, que era uma música que a gente tava querendo fazer há um tempo, que era tipo como se fosse uma semelhança entre as favelas dos Estados Unidos e a favela daqui. Ele queria mostrar essas realidades.
Eu soltei o beat e ele começou a escrever. Aí, quando ele começou a escrever, a primeira frase foi: “Nagalli he sent me the magic”. Quando ele gravou, a primeira coisa que eu fiz foi recortar essa parte, salvar, e aí depois a gente continuou gravando.
Nagalli fala sobre origem de apelido Mago dos Beats e hit com 50 milhões de reproduções
No dia seguinte, o Dfideliz me ligou para gravar uma música. A música chamava “Preto Rico”. Foi a primeira música que teve grande notoriedade do Dfideliz. Quando ele foi gravar essa música, a primeira coisa que eu pensei foi: “Vou retirar esse ‘Nagalli he sent me the magic’ e vou colocar na música do Dfideliz”.
A música bateu acho que 1 milhão [de reproduções] em menos de uma semana, que naquela época era uma coisa tipo estrondosa. Isso nunca tinha acontecido antes. E aí a gente soltou, bateu mais de 50 milhões naquela época [acumulado do período], que é uma coisa absurda, um número gigantesco. E a tag ficou ‘Nagalli he sent me the magic’.
O pessoal começou a querer saber o que que era aquilo. Eu lancei outra música com o Dfideliz com a mesma tag, que bateu muito também, que foi “Obrigado, mãe”. Aí lancei outra com a mesma tag. E aí lancei outra música de outro artista que bateu muito com a mesma tag e como o pessoal estava ouvindo várias vezes essa tag em vários artistas diferentes, eles estavam tipo: “Como assim? Que que é isso?”.
Aí, o pessoal começou a falar: Nagalli é um mago, Nagalli é um mago por conta do “magic”. Foi daí que surgiu o apelido.
Aos 27 anos, Nagalli soma produções de discos para artistas em destaque, como Djonga e Veigh
Divulgação
Você já vinha já tinha uma bagagem, já tinha produzido grandes nomes, mas o álbum veio agora. Por que levou esse tempo para ele ficar pronto?
Foi uma questão de tempo mesmo assim, sabe. […] Foi necessário esperar que o gênero crescesse, que as pessoas entendessem o que é o gênero e também eu evoluir como produtor, entender, enxergar o mercado de uma maneira melhor para que eu pudesse lançar um produto que fizesse sentido não só para um meio de produtores ou pro meio do trap, mas sim para um cenário geral da música no Brasil.
Eu vejo que se eu tivesse lançado esse mesmo projeto há cinco anos atrás, talvez ele não tivesse tido a notoriedade que ele teve agora tipo, de ter mais de 50 milhões de reproduções em três semanas, top 8 global.
O pessoal em si que consumia esse tipo de gênero já, não entendia muito bem naquela época o que era meu trabalho, o que o que que eu fazia. E hoje em dia o pessoal já entende, as pessoas já conseguem visualizar o trabalho não só de um produtor, mas o trabalho de um artista.
Nagalli sobre álbum: ‘Se tivesse lançado há 5 anos, talvez não tivesse essa notoriedade’
Foi toda uma construção durante esse tempo também, uma construção mercadológica minha, uma construção de imagem minha em cima da cena, em cima dos trabalhos que eu tava fazendo, também uma questão de experiência que foi agregada ao meu produto durante todo esse tempo.
Eu gostaria muito que isso que eu estou fazendo hoje pudesse ter sido feito há cinco anos atrás. Sempre que fazem essa pergunta eu uso como referência o Star Wars, que lançou primeiro os [filmes] que dava para fazer na época e depois, os que fizeram depois, por conta do avanço tecnológico.
É uma comparação que eu faço porque é é basicamente isso mesmo. Não só avanço tecnológico que a gente teve também, mas avanço da cena, com o avanço do conhecimento das pessoas para com o que é a cena, o que é o trabalho também de um produtor.
Tem uma entrevista sua que eu resgatei, de 2019, que você falou sobre haver discriminação ainda em relação à cena. Como você enxerga isso hoje?
Hoje é nítido de você ver, se coloca no top 50, você consegue ver artistas, produtores, pessoas que fazem o gênero no top 50 do Brasil. Naquela época, alcançar um top 50 era basicamente um marco histórico. Era realmente impossível.
Hoje, eu tenho mais de três músicas que já fizeram top 1 nacional durante a semana, que é uma coisa que naquela época era impossível de você pensar, era uma coisa basicamente irreal. Então, eu enxergo o avanço que teve, não só com relação ao conhecimento das pessoas em si, mas com relação ao avanço mental mesmo assim, de toda uma geração.
Eu acho que se reflete também nas plataformas, se reflete também no cachê dos artistas, você vê que hoje os artistas conseguem cobrar o mesmo tanto de cachê que artistas de sertanejo cobram, que artistas pop cobram. Então, acho que fica meio nítido quando o mercado começa a reagir dessa forma. Não tem como ignorar, né? Então, de certa forma, hoje a gente tem um respeito notório nacional.
‘Conseguem cobrar o mesmo cachê que artistas de sertanejo’, diz Nagalli sobre o rap e trap
E, também, eu vejo que o avanço das próprias pessoas que fazem o gênero, de enquadramento na sociedade. Então, as palavras que são utilizadas nas músicas, a forma como a música produzida, são coisas que com o tempo foram ganhando um espaço: “Ah não, isso dá certo, isso tá errado, isso o Brasil gosta, isso o Brasil não gosta”.
Em relação ao Magic Show, eu acredito que deve ter um gosto diferente você produzir outros artistas e você ter a obra própria sendo lançada. Queria que você comentasse um pouco sobre isso.
É muito legal de ver que hoje em dia eu consigo fazer fazer esse trabalho. Porque, como eu disse, naquela época era muito difícil de fazer, mas é muito satisfatório você ter um espaço, um respeito como produtor, um espaço pra você colocar as suas ideias à prova.
Eu acho que nós produtores, a gente não tem muito um ego artístico assim, eu dizendo por mim, obviamente. A gente tem muito carinho pela arte, mas acho que é diferente um pouco dos artistas, a gente não tem muito um ego artístico, então, o nosso compromisso ele passa a ser 100% para com a música.
Os artistas acabaram entendendo esse tipo de relação que eu tenho com a arte e compraram muito essa ideia. Então, eu vejo que não só o processo criativo, mas a ideia de fazer um produto que é meu parte disso, parte de você ter um carinho com a música, um carinho de fato com um gênero, com a expansão dele também. Então, o projeto, na construção em si, ele partiu muito dessa ideia.
Gravação de trailer para anunciar a estreia de “Magic Show”, no Teatro Bradesco,
Herique Augusto
Como é o seu processo criativo?
O meu processo criativo, no geral, ele parte muito sobre uma questão de análise do que eu faço de melhor e do que eu vejo que as pessoas querem do que eu faço de melhor. Então, eu tenho muito um feedback do público, com as músicas que eu já lancei. Eu acabo pegando esse feedback do público e aplicando dentro da estética que eu entendo que é necessária pra que o público consuma um produto bom.
Acho que essa questão de qualidade, que eu prezo tanto, ela vem por conta dessa necessidade do público. Quando eu vejo alguns produtos eu sei que o público vai se sentir bem em consumir. É totalmente isso que eu que eu levo em consideração quando eu to fazendo meu álbum. Eu sei que o público vai ouvir e vai falar: “Muito obrigado por ter feito isso”.
Mas tecnicamente dizendo, eu busco muitos instrumentos e timbres que remetem à minha estética já criada há um tempo. Então, eu gosto muito de sintetizadores simples. Gosto muito de timbres de bateria que realmente batem, realmente fazem o impacto quando a pessoa tá ouvindo, porque é uma coisa que eu carrego comigo desde sempre.
Como um baterista dizendo, eu sempre gostei mais de música pesada, então, quando eu faço as minhas baterias, quando eu faço as minhas melodias, eu sempre priorizo que as pessoas consigam ouvir bastante a bateria, que é uma coisa que me toca bastante, que eu vejo que o público também gosta bastante.
E melodicamente dizendo, eu gosto muito de melodias que fazem com que a pessoa entre na onda da música. Então, sintetizadores, violões, flautas, vocais são elementos que eu acabo usando bastante para que a pessoa se sinta meio que encantada com aquilo que ela tá ouvindo.
Disco de Nagalli no “Top Album Debut Global” do Spotify
Reprodução
E agora para finalizar, Nagalli, eu sei que entre os planos próximos estão shows e um [álbum] Deluxe, né?
Os planos de show vêm por conta de coroar mesmo esse processo todo, esse álbum, que eu acho que o público merece também. Agora, começa essa bateria de shows, turnês, se Deus quiser, então organizar um pouco mais essa vida artística para colocar o pé na estrada.
E o Deluxe, ele vem de uma forma… O álbum em si, ele foi para mostrar o que eu faço, né? O que eu posso fazer e que o público pode gostar. E o Deluxe ele vem tipo assim: “Toma mais um pouquinho! Vocês gostaram, eu sei que vocês gostaram. Muito obrigado, mas toma esse negocinho aqui que vocês vão gostar também”.
É uma uma vontade que eu tinha já de fazer um Deluxe clássico, de fazer um Deluxe onde a gente adiciona músicas ao álbum original. Mostrar um pouquinho do que não foi mostrado. Como se fosse um pouquinho do side B do Nagalli que não foi mostrado muito no álbum original.
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